LUA CHEIA EM SÃO THOMÉ
Waldir Carvalho
Findou-se a tarde em companhia do sol
que caiu cansado nos braços da serra do Itaóca. A pálpebra da noite desce
irresistivelmente sobre a nossa cabeça.
Tudo indica que o manto
escuro que nos envolve, impedirá até mesmo que haja a luz das estrelas.
Da quietude da varanda,
ouve-se o canto das ondas lá do mar, o ambiente é de paz em nossa volta. Há um
pouco de tristeza sem motivo a nos invadir o pensamento.
Mas, os instantes que se seguem, são prenúncio
de uma alegria incomum: somos, então, atraídos para o horizonte na direção do
nascente.
A iluminação indireta
que se projeta do fundo das águas, embeleza com requinte o proscênio do palco,
onde a natureza, em pouco irá representar.
Não há no espaço nuvens
privilegiadas a serem banhadas de prata em primeiro lugar. Só o azul do céu
serve de prisma e é capaz de traduzir o esplendor que não tarda.
Silêncio. O momento é
místico e a cena sagrada. O mar, o
vento, tudo se curva com
reverência ante o
grande altar. Por trás do imenso cálice que se transborda cá na areia, eleva-se
a grande hóstia para a comunhão das criaturas. Nossa alma, nesse momento de
contrição, se faz em prece.
Não custa nada orar
pelos homens que podem promover a paz.
Vale a pela convencê-los a amar uns aos outros. Provando que o amor é a única
força capaz de garantir a felicidade do mundo, a lua cheia que segue a sua
jornada por entre os astros do firmamento, vai derramando, fraternamente, sua
luz bendita sobre justos e injustos,sobre crentes e ateus, sobre árabes e
judeus, na esperança, talvez, de que um dia a paz seja, também, de todos —
Universal.