quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

"FAROL" ...E INSPIRAÇÃO (1974)

"FAROL"... E INSPIRAÇÃO
(Waldir Carvalho)

Introdução:
  “Este livreto resulta de um passatempo do seu autor, esperando ser o passatempo dos que o lerem, certo de que como o Tempo, o tempo há de passar também. E como diziam os antigos: ‘tudo na vida é passageiro... até o condutor e o motorneiro’.
  A praia, no passado, foi lugar próprio para se pregar mentiras e jamais deixou de ser um ambiente onde predominam “ondas”. Todavia, aí alguém menos preocupado com o cotidiano sempre encontra inspiração para suas páginas singelas e não é ‘farol’!


Do livro: "FAROL" ...E INSPIRAÇÃO
(1974)

BOCA DE SIRI

  "A expressão está consagrada pela gíria e significa: guardar segredo ou manter o assunto na ‘moita’.
  O siri, ao contrário da mulher, nasceu para não falar. Herdou a prudência do hindu.
  Além deste castigo, ele está sujeito a viver como o povo londrino na época da Segunda Guerra: submerso em abrigos, defendendo-se de seus inimigos.
  Aqui em Farol de São Tomé verifiquei, mais uma vez, esses fatores em uma tarde dessas.
 A beira mar estava deserta. Os veranistas permaneciam em suas casas: uns aproveitando a sesta; outros jogando cartas.
  Fui ver o comportamento das ondas, mas tive que deter meus passos diante do show de expansividade, que era dado ver.
  Na superfície polida há pouco pela maré cheia, uma multidão de seres ruivos se entregava à mais  pandemônica das orgias. Era a festa de uma libertação por tempo indeterminado.
  Com os braços erguidos, como que acenando para mim, cada habitante do subsolo corria feliz.
  Dava gosto vê-los. Ninguém, nada havia para perturbar-lhes a calma ou caçar-lhes a alegria e não seria eu, tampouco,que iria desmanchar em segundos, tantos minutos de prazer.
  Pus-me, então, a pensar no que tem sido a conquista da liberdade pelo homem através dos séculos.
  Analisei a dor, que substitui a Paz que se perde.
  Coloquei-me no lugar de cada um dos siris festivos. Resolvi não abrir os lábios para o menor sussurro e conclui, que mesmo falando pouco, a gente às vezes se arrepende de ter falado tanto.
Regressei para casa e em paz com a minha consciência em silêncio."


                                                      

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