segunda-feira, 28 de março de 2016

CIDADE ALEGRE

Do livro "O Espetáculo"
(Waldir Carvalho)

Introdução do autor:

     (...) e foi observando as pessoas,prestando atenção no comportamento delas,que encontrei assunto para escrever um punhado de crônicas humoradas,que após passarem pelas páginas dos jornais campistas,aqui vão reunidas.São cenas as mais variadas,sob dose de fantasia,vivida na terra dos"Goitacás",mas que podiam ter como cenários outras bandas deste mundo.
E atenção porque já tocou o terceiro sinal e as cortinas vão se abrir."

  CIDADE ALEGRE
(março/1975)
                                                      Campos, na verdade, não é uma comunidade triste, mas já foi uma cidade alegre. Vivia, desde o amanhecer até as primeiras horas da noite, embalada por canções festivas, cantorias simples, de gente simples que tanto exaltavam a alma da gente.
     Os pregões, em primeiro lugar, faziam das horas duras de labuta, momentos amenos de uma festa espontânea. Ali pelas nove da manhã ou pelas três da tarde, o poeta-vendedor passava entoando:

“Empadeiro...
Empadeiro Amazonas
Tem palmito,
camarão, azeitonas”...

     Era a década de trinta. A novidade era o sorvete em casquinhas. Com seu barrilzinho à cabeça e no vozeirão de seu peito o atlético “Arraia” descia a Rua da Constituição a fora gritando:

“Sorvete Iaiá!...
É da Americaná!...”

     Era outras coisas, era época da reva nas mãos de Brindila. Brindila? Sim, aquele poeta e cantor de ópera que italiano de nascimento, sempre confessou sua tristeza de não ter nascido em Campos. Brindila é assunto para uma conferência e não sou eu o mais indicado para pronunciá-la.
Permitam-me, apenas, recordá-lo num desses momentos musicais da cidade que não se repetirão jamais. A cena tinha como figura principal, Brindila fazendo “reclame”, lançando pelas ruas, um grande filme num dos melhores cinemas campista.
     Tarde quente. Todos trabalham ou estudam. De repente, muita música e grande vozerio. Portas e janelas se enchem para ver o luxuoso cortejo em estilo oriental, árabe, por excelência. É uma encenação perfeita de um quadro qualquer das célebres “Mil e Uma Noites”.
     A caravana é imensa. Animais, escravos, odaliscas e o colorido retratam a presença do oriente. O som das trombetas anuncia a passagem do poderoso Ali Babá e seus 40 ladrões.
Montado num jumento enfeitado, entre arcas douradas, está Brindila vivendo o papel do legendário sultão. Com o auxílio de um porta-voz, ele canta uma marchinha que diz:

“Ali Ali Babá
Ali Babá e seus 40 ladrões
Entraram em Campos Iaiá,
No Trianon Iaiá
Pra alegrar os tristes corações”

     Campos, não é triste, mas foi uma cidade muito alegre. E a música de hoje? Descargas abertas, dos carros envenenados, dos caminhões trucados, das motos disparadas.
     Paciência!"

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