CRÔNICA DE VERÃO
(Waldir Cavalho)
“A folhinha açoitada
pelo nordeste, assinalava 21 de janeiro de 1933. Com os meus dez anos
incompletos e a minha calça curta de suspensórios, cavalguei pajeado pelo bom
Antônio, durante horas infindas por toda a imensidão dos campos da Boa Vista,
deixando para trás: Santo Amaro, Andreza e Cotia.
O vetusto solar que
havia abrigado o general Pinheiro Machado e que se constituía no “sobrado” dos
Irmãos Saldanha, foi o primeiro motivo de admiração para meu espírito de
criança.
Penosa a caminhada, mas
a busca do desconhecido, dava -me ânimo para prosseguir.
A emoção me trancava a
garganta. Meus olhos, tais quais pernas de compasso passeavam do Xexé ao
Algodoeiro...
Eis que surge... o
Farol! São Tomé à vista! Era preciso ver pra crer...
Mais adiante, o ponto
alto do espetáculo: o mar. Indescritível o que senti naquele momento. A
vastidão oceânica tinha um aspecto fantástico. O belo (a cortina que se
abria) e o horrendo (o ronco, como um
trovão, que se elevava de suas águas revoltas) se mesclavam: a ondulação
iniciada ao longe ia se avolumando ao se aproximar da terra firme formando uma
curiosa cordilheira, para em seguida derramar-se - violentamente -sobre indefesos crustáceos, e
culminar beijando a areia carinhosamente.
Há dois palmos acima das ondas, um pássaro
malabarista, preparava-se para fisgar um peixe..."
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