Waldir Carvalho e o livro: "SE NÃO ME TRAI A MEMÓRIA"
Veraneando na praia (Farol de São Tomé) em que
estive em companhia do meu saudoso pai por muitos anos as lembranças felizes
surgem.
Peço licença aos leitores do blog para
transcrever fragmentos de uma crônica que fiz, em sua homenagem:
Hoje falo não do novelista, escritor, historiador... falo
do homem atrás do homem ou seja seu
melhor personagem construído: ele mesmo.
Devo dizer que quem teve a oportunidade
de ler "SE NÃO ME TRAI A MEMÓRIA" (que foi
lançado por ocasião dos 80 anos do escritor) lá encontrou o perfil do
homenageado: sua trajetória de vida desde a infância, passando pela juventude e
idade adulta; as profissões abraçadas, as conquistas obtidas e o destaque à sua
obra-prima – sua família.
E foi neste convívio familiar que as
lembranças – as mais felizes – vêm saltar-me aos olhos.
Pareço ver suas mãos... Mãos
habilidosas que fizeram vestimentas impecáveis (como honrou sua profissão de
alfaiate!); mãos que escreveram histórias ditadas pelo coração e mente; mãos
que tocaram violão em saudosas serenatas; mãos que desenharam “sombras” para
alegrar as filhas-meninas (como esquecer as figuras que foram projetadas nas
paredes quando faltava luz?), mãos que até traçaram esboços arquitetônicos.
Mãos que dedilharam na velha máquina de escrever – fiel companheira – quase
toda a sua obra radiofonizada.
Pareço ouvir a sonoridade de seu
assobio toda vez que chegava em casa... como também o quanto deixava o ambiente
com leve fragrância de paz ao ligar a baixo volume suas músicas clássicas
preferidas.
Pareço escutar sua voz... Pausada,
mansa, ponderada. Seus ensinamentos, suas frases inesquecíveis.
Pareço espiá-lo em seus hábitos
diários. A barba feita bem cedo, o rádio ligado; os bate-papos vesperais no
Boulevard; sua saída e retorno do trabalho; as horas incontáveis em sua
biblioteca: lendo, escrevendo, organizando papéis e ideias em momentos de suas
criações literárias.
Obedecia rituais que lhe soavam
prazerosos. Certa vez, sentenciou: “O dia tem 24 horas. Divido em 8 para o
descanso, 8 para o trabalho e 8 para o lazer. Nestas, subdividido em ler,
escrever, estar com a família, meditar.”
Espiritualista (foi Mestre da Ordem
Rosacruz) e espirituoso. Embora contido, sabia fazer graça relatando fatos
curiosos.
Nascido no interior (não perdia uma
festa de Santo Amaro) escreveu e reverenciou sua Campos a qual contava com
orgulho ter vindo em companhia do pai em sua festa do Centenário.
Pareço senti-lo aqui. O encontro salutar
com a família, em conversas descontraídas na varanda de casa sob a luz do luar...
Sua presença-ausência torna impregnado o ambiente.
Pareço... Não! Vejo, ouço, sinto neste
momento o quanto Waldir Carvalho é imortal na lembrança de muitos.
E, sem pretensão, já pedindo desculpas
ao Criador, não sei qual melhor título devo dar ao que escrevi e que acabo de
ler: Imagem de um pai ou À imagem do Pai, dada à sua vida pautada de
simplicidade, honradez e bem servir!
Walnize Carvalho