sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

IMAGEM DE PAI


Waldir Carvalho e o livro: "SE NÃO ME TRAI A MEMÓRIA"

            Veraneando na praia (Farol de São Tomé) em que estive em companhia do meu saudoso pai por muitos anos as lembranças felizes surgem.
         Peço licença aos leitores do blog para transcrever fragmentos de uma crônica que fiz, em sua homenagem: 
          Hoje falo  não do novelista, escritor, historiador... falo do  homem atrás do homem ou seja seu melhor personagem construído: ele mesmo.
         Devo dizer que quem teve a oportunidade de ler "SE NÃO ME TRAI A MEMÓRIA" (que foi  lançado por ocasião dos 80 anos do escritor) lá encontrou o perfil do homenageado: sua trajetória de vida desde a infância, passando pela juventude e idade adulta; as profissões abraçadas, as conquistas obtidas e o destaque à sua obra-prima – sua família.
         E foi neste convívio familiar que as lembranças – as mais felizes – vêm saltar-me aos olhos.
         Pareço ver suas mãos... Mãos habilidosas que fizeram vestimentas impecáveis (como honrou sua profissão de alfaiate!); mãos que escreveram histórias ditadas pelo coração e mente; mãos que tocaram violão em saudosas serenatas; mãos que desenharam “sombras” para alegrar as filhas-meninas (como esquecer as figuras que foram projetadas nas paredes quando faltava luz?), mãos que até traçaram esboços arquitetônicos. Mãos que dedilharam na velha máquina de escrever – fiel companheira – quase toda a sua obra radiofonizada.
        Pareço ouvir a sonoridade de seu assobio toda vez que chegava em casa... como também o quanto deixava o ambiente com leve fragrância de paz ao ligar a baixo volume suas músicas clássicas preferidas.
         Pareço escutar sua voz... Pausada, mansa, ponderada. Seus ensinamentos, suas frases inesquecíveis.
         Pareço espiá-lo em seus hábitos diários. A barba feita bem cedo, o rádio ligado; os bate-papos vesperais no Boulevard; sua saída e retorno do trabalho; as horas incontáveis em sua biblioteca: lendo, escrevendo, organizando papéis e ideias em momentos de suas criações literárias.
         Obedecia rituais que lhe soavam prazerosos. Certa vez, sentenciou: “O dia tem 24 horas. Divido em 8 para o descanso, 8 para o trabalho e 8 para o lazer. Nestas, subdividido em ler, escrever, estar com a família, meditar.”
         Espiritualista (foi Mestre da Ordem Rosacruz) e espirituoso. Embora contido, sabia fazer graça relatando fatos curiosos.
         Nascido no interior (não perdia uma festa de Santo Amaro) escreveu e reverenciou sua Campos a qual contava com orgulho ter vindo em companhia do pai em sua festa do Centenário.
         Pareço senti-lo aqui. O encontro salutar com a família, em conversas descontraídas na varanda de casa sob a luz do luar... Sua presença-ausência torna impregnado o ambiente.
         Pareço... Não! Vejo, ouço, sinto neste momento o quanto Waldir Carvalho é imortal na lembrança de muitos.
         E, sem pretensão, já pedindo desculpas ao Criador, não sei qual melhor título devo dar ao que escrevi e que acabo de ler: Imagem de um pai ou À imagem do Pai, dada à sua vida pautada de simplicidade, honradez e bem servir!        
                                                                           Walnize Carvalho



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