quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

FESTA DE SANTO AMARO

Igreja de Santo Amaro
                                        
             Crônica de Waldir Carvalho, inserida no livro, "SE NÃO ME TRAI A MEMÓRIA".

FESTA DE SANTO AMARO

   "Grande parte da população brasileira costuma cultuar os seus santos padroeiros a quem devota, no seu dia, grandes homenagens. Nós, da baixada comemoramos a cada dia 15 de janeiro dia de Santo Amaro, ocasião em que se reúnem, vindo das mais diferentes regiões, filhos do local para rever parentes, devotos para pagar promessa e turistas pelo fascínio  que a festa proporciona.
    Guardo dela, grandes recordações.
   Pelos elementos típicos que apresenta, a festa de Santo Amaro é sem duvida a mais bonita da Baixada, com o adro da igreja sempre repleto de pessoas que fazem do momento um motivo para rever amigos e parentes.
  No passado havia um “quê” de especial. Na véspera o trem chegava com  vagões extras transportando além de grande número de fiéis, o Festeiro e uma banda vinda de Campos que podia ser a Apolo ou a Guarani. Nesse instante, ouvia- se o badalar dos sinos da igreja e os foguetes começaram a subir, espocando no ar, dando inicio à festa. Executando o conhecido “Emblema Nacional”,  ir a corporação seguida da multidão. Era nesse momento, já tomado de alegria, que se dava o levantamento do mastro.
   Previamente trabalhado pintado de novo em duas cores, o madeiro de longa metragem ostentava o quadro em que parecia imagem do santo. A Luiz  e  José Alexandre cabia na escavação local e ao Dídimo cuidar das cordas que faziam erguer o mastro, bem como desatá-las, ao fim da cerimônia...
   A banda executava o Hino Nacional e, pouco a pouco, os homens conseguiam com o auxilio das cordas  erguer o Mastro com a imagem do padroeiro. O embalo do vento dava impressão de estar  saudando os devotos.
   A criançada  corria para apanhar a flecha dos foguetões que acabavam de estourar. No coreto, no intervalo das músicas tinha inicio ao leilão de prendas. Mais tarde, o sino anunciava o inicio da ladainha que era cantada por  senhoras do lugar.
   Na grande praça tomada por grupos de barraquinhas, rapazes procuravam no oferecimento de uma “sorte” o  pretexto para iniciar um namoro...
   Chega o dia da  Grande  Festa. Às cinco da manhã, a população é despertada pelo estouro dos fogos e pelo repique dos sinos. Ouve-se ainda na cama! - o dobrado que vem de longe, aumentando sempre. Com o encantamento do toque da Alvorada as pessoas se levantam para participar dos festejos. As casas da localidade tornavam-se hospedaria até para estranhos e todos ficavam em contínuo em movimento que só terminava no fim da festa.
   Transportados  em carros encourados, começa a chegar gente de sapatos e roupas novas. Alguns vêm a cavalo. A maioria mesmo vem a pé. Maria Gorda a doceira de Mussurepe, é das primeiras a chegar, com o seu enorme baú de bombocado na cabeça. Ouve-se ao longe o  gemer do realejo de Machambomba, que seduzia a garotada para uma voltinha ou uma tirada de argolinha...
   Colorido especial ganhava a praça com suas incontáveis bandeirinhas  multicoloridas hasteadas em bambus folhudos e com as roupas novas, muitas delas de cores berrantes e  tecidos brilhosos que os visitantes orgulhavam em exibir... E são tantos os  visitantes que se a gente do lugar – as meninas de Olhos D'água, as manas-chicas de Caboio, os rapazes de Mata-Cachorro, e os velhos de Boa Vista - todos querendo ver ou participar das brincadeiras da festa como as corridas de sacos, o pau de sebo, as danças de jardineiras, o leilão de reses, tudo contribuía para a grandeza da festa de Santo Amaro.
   Atos de fé e beleza profana se misturam na minha memória ao lembrar o evento da terra goitacá cujo clímax ficava por conta da tradicional Cavalhada, um capítulo à parte...
  Foi assim. O tempo passou. O trem foi substituído pelos ônibus, pelos caminhões, pelos automóveis. Em lugar de candeias de querosene de antigamente, a iluminação agora é de lâmpadas de mercúrio. A poeira do chão já não existe: está sob o asfalto e o calçamento. Se  muita coisa mudou, muita coisa também permaneceu. Os devotos continuam fervorosos , os filhos do lugar comparecem na medida do possível. A Cavalhada continua a encantar como antigamente, só que agora já tendo como participantes corredores filhos, corredores netos...

 A Festa de Santo Amaro - o Padroeiro da Baixada Campista - outrora “Terra dos Heréos” continua. É uma tradição!"

Nenhum comentário:

Postar um comentário