Igreja de Santo Amaro
Crônica de Waldir Carvalho, inserida no livro, "SE NÃO ME TRAI A MEMÓRIA".
FESTA DE SANTO AMARO
"Grande parte da
população brasileira costuma cultuar os seus santos padroeiros a quem devota,
no seu dia, grandes homenagens. Nós, da baixada comemoramos a cada dia 15 de
janeiro dia de Santo Amaro, ocasião em que se reúnem, vindo das mais diferentes
regiões, filhos do local para rever parentes, devotos para pagar promessa e
turistas pelo fascínio que a festa
proporciona.
Guardo dela, grandes
recordações.
Pelos elementos típicos
que apresenta, a festa de Santo Amaro é sem duvida a mais bonita da Baixada,
com o adro da igreja sempre repleto de pessoas que fazem do momento um motivo
para rever amigos e parentes.
No passado havia um
“quê” de especial. Na véspera o trem chegava com vagões extras transportando além de grande
número de fiéis, o Festeiro e uma banda vinda de Campos que podia ser a Apolo ou
a Guarani. Nesse instante, ouvia- se o badalar dos sinos da igreja e os
foguetes começaram a subir, espocando no ar, dando inicio à festa. Executando o
conhecido “Emblema Nacional”, ir a
corporação seguida da multidão. Era nesse momento, já tomado de alegria, que se
dava o levantamento do mastro.
Previamente trabalhado
pintado de novo em duas cores, o madeiro de longa metragem ostentava o quadro
em que parecia imagem do santo. A Luiz
e José Alexandre cabia na
escavação local e ao Dídimo cuidar das cordas que faziam erguer o mastro, bem
como desatá-las, ao fim da cerimônia...
A banda executava o
Hino Nacional e, pouco a pouco, os homens conseguiam com o auxilio das cordas erguer o Mastro com a imagem do padroeiro. O embalo
do vento dava impressão de estar saudando os devotos.
A criançada corria para apanhar a flecha dos foguetões
que acabavam de estourar. No coreto, no intervalo das músicas tinha inicio ao
leilão de prendas. Mais tarde, o sino anunciava o inicio da ladainha que era
cantada por senhoras do lugar.
Na grande praça tomada
por grupos de barraquinhas, rapazes procuravam no oferecimento de uma “sorte”
o pretexto para iniciar um namoro...
Chega o dia da Grande
Festa. Às cinco da manhã, a população é despertada pelo estouro dos
fogos e pelo repique dos sinos. Ouve-se ainda na cama! - o dobrado que vem de
longe, aumentando sempre. Com o encantamento do toque da Alvorada as pessoas se
levantam para participar dos festejos. As casas da localidade tornavam-se
hospedaria até para estranhos e todos ficavam em contínuo em movimento que só
terminava no fim da festa.
Transportados em carros encourados, começa a chegar gente de
sapatos e roupas novas. Alguns vêm a cavalo. A maioria mesmo vem a pé. Maria
Gorda a doceira de Mussurepe, é das primeiras a chegar, com o seu enorme baú de
bombocado na cabeça. Ouve-se ao longe o
gemer do realejo de Machambomba, que seduzia a garotada para uma
voltinha ou uma tirada de argolinha...
Colorido especial
ganhava a praça com suas incontáveis bandeirinhas multicoloridas hasteadas em bambus folhudos e
com as roupas novas, muitas delas de cores berrantes e tecidos brilhosos que os visitantes orgulhavam
em exibir... E são tantos os visitantes
que se a gente do lugar – as meninas de Olhos D'água, as manas-chicas de
Caboio, os rapazes de Mata-Cachorro, e os velhos de Boa Vista - todos querendo
ver ou participar das brincadeiras da festa como as corridas de sacos, o pau de
sebo, as danças de jardineiras, o leilão de reses, tudo contribuía para a
grandeza da festa de Santo Amaro.
Atos de fé e beleza
profana se misturam na minha memória ao lembrar o evento da terra goitacá cujo
clímax ficava por conta da tradicional Cavalhada, um capítulo à parte...
Foi assim. O tempo
passou. O trem foi substituído pelos ônibus, pelos caminhões, pelos automóveis. Em
lugar de candeias de querosene de antigamente, a iluminação agora é de lâmpadas
de mercúrio. A poeira do chão já não existe: está sob o asfalto e o
calçamento. Se muita coisa mudou, muita
coisa também permaneceu. Os devotos continuam fervorosos , os filhos do lugar
comparecem na medida do possível. A Cavalhada continua a encantar como
antigamente, só que agora já tendo como participantes corredores filhos,
corredores netos...
A Festa de Santo Amaro -
o Padroeiro da Baixada Campista - outrora “Terra dos Heréos” continua. É uma
tradição!"
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