Tempo de
lembrar
Walnize Carvalho
(Crônica publicada hoje no "O Diário")
Neste 27 de julho, se ainda estivesse entre nós, meu pai - Waldir
Carvalho - estaria completando 91 anos,
dos quais, 84 - familiares e amigos -
desfrutaram de seu convívio.
A minha lembrança - homenagem desta vez,
a faço utilizando palavras escritas por
ele mesmo e que ficaram patenteadas em seu livro: SÓ, NA MULTIDÃO, no qual o
autor revela pensamentos que o dominaram em várias ocasiões ,distribuídos em
oitenta e duas crônicas.
Nele, o escritor compôs três delas sobre
os títulos sugestivos de: “Tempo de Nascer”,
“Tempo de Viver”e “Tempo de Morrer”.
Dessa forma, irei extrair fragmentos de
cada uma delas (sem macular a essência da escrita) e transcrevê-las aqui, neste
domingo de saudades.
Escreveu assim, Waldir Carvalho:
“Do sonho de dois corações que se amam,
acaba surgindo uma doce realidade: o casamento.
Tempos depois, algo virá para selar o grande
amor: o filho.
A nova ansiedade cresce no coração do
casal. E os planos são tantos!A imaginação evolui, ganha proporções
incomparáveis. Menino? Menina? Tanto faz!
As horas passam e nasce o pequeno ser.
O choro da criaturinha parece ter a
percepção antecipada e intuitiva de que irá viver em um Mundo - Escola em que as provas - quase todas
- serão eliminatórias.
Desse pequeno ser, muito se espera; muito
se oferece.
Ele se torna fonte de toda expectativa,
alvo de todas as atenções e núcleo de todas as alegrias.
E o tempo passa... A criança, livre de
maiores amparos procura trilhar o caminho com seus próprios pés. Cabe a ela
seguir; dar resposta na proporção de seus atos; pedir conselhos; amparar seus
semelhantes.
É hora de fundir novas matizes; de
modelar formas produtivas; usufruir desse seu tempo de jovem,onde a mente está
apta para as mais arrojadas criações e
assim justificar a sua passagem entre os mortais...
É chegado o terceiro tempo.
O desgaste natural, do invólucro cansado
de transportar o verdadeiro ser, é prenúncio da grande transformação, que faz
parte do aprendizado.
É o momento de reunir as experiências
vividas, na esperança de que seus exemplos e atos sirvam de modelo para os que
buscam a fórmula de um bem viver.
Vale como reflexão desse novo momento, uma
lenda que conta: ‘Um homem de avançada idade estava plantando uma mudinha de
pessegueiro,quando foi interpelado por um vizinho,que indagou: - Pretende comer
pêssego desse pessegueiro? O ancião, tranquilamente, apoiando o corpo sobre a
pá, que tinha nas mãos, respondeu em tom sereno: - Não, meu caro! Estou certo,
de que com minha idade, isso não será possível! Porém, devo dizer que, durante
toda a minha vida saboreei pêssegos... mas nunca plantados por mim mesmo’.
Acredito que, todo aquele que chega ao
limiar de uma nova forma de existência e tem a certeza de praticou o Bem, sem
visar recompensa, está certo de que cumpriu sua missão.
O que importa é termos usado a força de
nossos braços, o poder de nossos pensamentos e a energia de nosso coração na
tarefa de ser útil ao nosso semelhante.”
Assim... neste tempo de lembrar do pai,
avô, bisavô, esposo, irmão, amigo, o
escritor nos revela a essência do homem imbuída em seu ser.