LOUVOR AO CAMPISTA WALDIR PINTO CARVALHO
Heloísa Crespo
ESCREVER É PRECISO
A Waldir Carvalho
“Foi em julho que nasci,
sou leonino de fato;
mas tanto, tanto sofri,
que o tal leão virou gato...”
Assim escreveu Waldir.
Com esta trova eu abri
sua vida num relato.
O escritor Waldir Carvalho
dentro e fora da cidade
é um nome respeitado,
pela sua integridade,
por tudo que fez na vida,
sua obra, sua lida,
sua versatilidade.
Antes de tudo poeta.
Desde menino um ator.
Alfaiate de primeira,
um grande pesquisador
de Campos dos Goytacazes.
Autor de inúmeras frases,
próprias de um pensador.
Sempre foi dado à leitura
de umas peças teatrais
de autores estrangeiros
e de muitos nacionais.
O teatro freqüentava.
No Trianon sempre estava
nas Revistas Musicais.
Desde bebê aprontava.
Nascido em Santo Amaro,
comendo banana figo.
Aos dois, três anos deparo
com a estória de um sumiço,
andando com todo viço,
vivendo um momento raro!
Colocou toda a família
e também a vizinhança
numa procura infernal.
Foi achado em segurança
atrás de uma moita de cana,
por Nhanhá, que estava insana,
depois de muita andança!
Nhanhá que contava histórias,
que lhe deu o primeiro banho.
Foi sua segunda mãe.
E não é nada estranho
em tudo o que ele fez,
com a influência talvez,
de Nhanhá de olhos castanhos.
Pela parte do seu pai
Waldir Carvalho tem Pinto,
mas pela parte da mãe,
é um Carvalho distinto.
Nunca se orgulhou de ter,
pelo seu jeito de ser,
o sangue de Juca Pinto,
que era o seu bisavô,
conhecido na história
da escravidão na Baixada,
pela maneira inglória
de tratar os seus escravos.
Era um senhor muito bravo.
Isso guardou na memória.
Aprendeu o ABC
com a sua mãe Carmelina.
Concluiu o seu primário
com a professora Etelvina.
Com ela participou,
num teatro que criou
com a maior disciplina,
da peça “Juiz de Paz
na Roça”, de Martins Pena.
A partir daí então,
depois de viver as cenas,
hoje ele tem a certeza,
que foi uma chama acesa.
Sabe que valeu a pena!
Escreveu textos e textos
ao longo da sua vida
pra serem representados.
Mas fez, também, investidas
através de poesias,
cujo caminho abriria,
quando uma delas foi lida.
O Jardim Nilo Peçanha
com a sua Academia,
não recebeu nada igual,
nem mesmo nas cercanias,
nunca viu ato solene
mais terno e será perene,
relembrado a cada dia!
Lida por Sílvio Fontoura
na redação do jornal
“A Notícia” que publica,
com tão importante aval!
Depois foi Júlio Nogueira,
que numa idéia certeira,
edita no seu jornal,
no matutino “A Cidade”,
um poema que ele leu,
da festa de Santo Amaro.
Depois do que aconteceu,
Valdir partiu pra mostrar,
onde hoje é o Boulevard,
vários textos que escreveu!
Eram textos teatrais
que foram analisados
por pessoa exigente,
o mestre Gastão Machado.
Passou mais a conviver,
procurando aprender,
com escritores consagrados.
Nessa época Waldir
alfaiate era ainda,
costurando ternos, roupas,
dramas, comédias bem-vindas.
Depois da alfaiataria,
para o rádio ele iria,
já que estava na berlinda.
O rádio era a novidade
e nele foi redator
e produtor de programas.
Esquetes, peças do autor
faziam grande sucesso.
Sucesso que foi expresso
na audiência ao escritor.
Tudo isso acontecia
numa emissora pioneira
do nosso Estado do Rio,
que tinha como bandeira
a programação ao vivo,
num sistema criativo,
sendo mesmo uma parceira
dos artistas da cidade,
a nobre Rádio Cultura,
de Mário Ferraz Sampaio,
que deu toda cobertura
às novelas radiofônicas,
que foram a grande tônica
na audiência da Cultura.
Waldir tinha os seus “scripts”
no início humorísticos.
Foi através deles que
foi visto o seu lado artístico.
E triunfante ele entrou,
seu trabalho divulgou,
mostrando o seu senso crítico.
A estréia aconteceu
bem na hora do Café,
onde o Agnaldo Rocha
interpretava com fé
os seus textos de humorismo,
com um forte realismo,
como locutor que é.
Depois de entrar na Cultura,
ter o seu contrato feito,
teve aulas de gramática,
para um linguajar perfeito.
Estudou literatura.
O seu português apura
e dele tira proveito.
Professor Antônio Sarlo
deu aulas para Waldir
e também o aconselhou
que passasse a produzir
outros tipos de novela.
Para a histórica ele apela.
Não foi difícil aderir.
Escreveu “A Epopéia
de Patrocínio primeiro.
Depois Saldanha da Gama.
Nisso ele foi pioneiro.
Descreveu Nilo Peçanha
e relatou as façanhas
de outros heróis, por inteiro.
Da equipe na Cultura,
do técnico ao ator,
relembra Valdemar Lobo.
Não esquece Salvador
Macedo, nem de Lucy
Gasparini que ali
estrelou com o Vovô
da Floresta; Lia Márcia,
Noelcides Guimarães;
José Braga e muitos outros,
que encantavam os seus fãs;
Derly Silva e outros artistas,
que eram bons humoristas
e muitos deles, galãs!
Jobel Ramos era um
sonoplasta de primeira.
Prisco de Almeida, maestro,
numa bonita carreira.
Tinha a direção artística,
uma veia jornalística
e atitudes companheiras.
Bueno Braga e Hernon Viana
eram apresentadores.
Também Jece Valadão,
Nilton Fonseca a cores,
ao vivo em vários programas,
onde a alegria derrama
e agrada aos freqüentadores.
“O Destino a Deus pertence”,
“Almas Negras”, “Amargura”,
foram algumas das novelas
escritas com a assinatura
Waldir Pinto de Carvalho,
que adora o seu trabalho,
escrevendo aventuras,
enredos bem filosóficos,
outros bem ‘água com açúcar’
narrações de fundo histórico,
bem reais. Não são malucas!
“Saldanha da Gama” é uma,
entre outras que costuma
falar, que não são caducas!
Muitas vezes elas são cômicas
ou mesmo de ficção.
Como Waldir é versátil!
Está sempre em ação...
No rádio foram dez anos,
com novatos, veteranos,
da gerência à redação.
Foi da Jornal Fluminense.
Foi da Campos Difusora.
No rádio fez amizades.
Todas incentivadoras:
Waldebrando, José Salles...
Neste mundo o que mais vale
é a amizade duradoura!
Teve um apoio da crítica
nos seus programas finais
com radiobiografias,
de pessoas com ideais,
que começaram do nada,
mas como eram esforçadas,
tornaram-se magistrais!
Após seu desligamento
do rádio em definitivo,
tornou-se um funcionário
ligado ao executivo
da prefeitura de Campos,
num trabalho em novo campo,
que era muito exaustivo!
Era na tesouraria.
Enfim, virou tesoureiro,
mas escrevia artigos
com calma, sem desespero,
para rádios e jornais.
Mas nas coisas ilegais
diz não e não por inteiro.
Por isso é afastado
do seu trabalho diário,
ficando à disposição.
Não descansa, ao contrário,
enquanto é pai-motorista,
vira aluno extremista,
num estudo voluntário,
pelo Projeto Minerva.
Enquanto espera sua filha
que trabalha na escola,
Waldir faz a sua trilha:
No rádio as aulas ouvindo.
Mas... acaba desistindo
e um outro curso palmilha.
Adquire os fascículos
da Editora Abril,
cursando o Ginasial
Intensivo que assumiu.
Foi aprovado nas provas
e outra etapa se renova.
E os estudos prosseguiu.
Comprou o material
todo por correspondência
na cidade de São Paulo.
Fez as provas na seqüência,
após seis meses de estudos,
com língua estrangeira e tudo.
Viva a sua inteligência!
Findou o Segundo Ciclo.
Mais uma etapa vencida.
Com este certificado
continuou na investida
do saber cada vez mais.
Criou novos ideais,
com a família na torcida!
No dia da inscrição
pra fazer o vestibular,
a secretária entregou
a filha que estava lá,
a ficha pra preencher.
Ficou surpresa ao saber
que o pai iria estudar.
Fez o curso de Direito.
Seu genro Gelson é colega!
Enquanto estuda escreve
seus artigos e navega
em novas experiências,
que estavam em evidência
e ao cinema se entrega.
Participa do primeiro
e segundo festival
só de filme ‘super 8’,
atuando afinal
no enredo e direção,
cenografia e ação,
de maneira especial.
Nos roteiros pro cinema,
que fez e foi premiado,
nos dois festivais seguidos,
com os filmes inusitados:
“Desajuste” e “A Carona”.
Vencedor na maratona.
Foi por Rui Barros filmado.
Rui Barros foi o produtor.
Waldir nesses filmes feitos
foi também o diretor.
Os intérpretes perfeitos!
Entre alguns Fátima Castro,
Marisa Gomes, os astros
de um elenco sem defeito!
Foram colaboradores
de Rui Barros e Waldir,
Hilton Barros e Orávio
de Campos que vem abrir
o “parabéns pra você”,
num relato pra valer,
no jornal depois de ouvir
e entrevistar o escritor
no dia do aniversário,
em 27 de julho,
do agora octogenário,
o grande memorialista,
que, sem dúvida, é bairrista
e não tem adversário!
Desde menino ele ia
em Baixa Grande ao cinema.
Depois veio pra cidade,
criando um estratagema
para ir ao Trianon
divertir-se muito com
as comédias que eram temas.
Nunca deixou de escrever,
sempre brincando com as trovas:
Na homenagem a Zenir
até hoje, desde nova;
ao nascer filhas e netos;
para os genros e bisnetos;
Pra quem gosta ou desaprova.
Publicou dezesseis livros.
“Gente que é nome de rua”
foi o primeiro lançado.
Depois desse não recua.
“Se não me trai a memória”,
Waldir conta a sua história
e sua vida continua.
Registra duas saudades:
Adilson Rangel – Noblesse;
João Sobral – “Ao Livro Verde”.
Amigos que não esquece.
Cita prêmios recebidos,
os diplomas conferidos,
títulos que o engrandece.
O poeta Waldir Carvalho
pertence as Academias
de Campos dos Goytacazes
e numa delas seria
algum tempo presidente
o que fez galhardamente,
com muita sabedoria.
Assim foi na ACL.
Pertence à UBT,
ao ICL e ao ILA.
Em Niterói a saber
é também reconhecido,
tanto que foi acolhido,
membro efetivo foi ser.
Primeiro foi no Cenáculo
Fluminense de História
e Letras, tão importante!
Depois também foi a glória
de entrar para a Academia,
onde logo ele seria
membro e parte da história
da Fluminense de Letras!
O prêmio Alberto Lamego,
medalha de Honra ao Mérito,
diplomas que tem apego.
A medalha Tiradentes,
honra que orgulhosamente
guarda e tem muito chamego.
É o reconhecimento
pelo esforço e trabalho
bem feito e muito decente,
forte como um carvalho.
Muitos são da prefeitura
pro homem da envergadura
do escritor Waldir Carvalho.
Se perguntarem ao Waldir:
Quais as manias que tem?
“A mania de escrever,
é uma que é... um bem!”
Por isso, tantos escritos,
com o maior gabarito,
que vai muito além de cem,
publicados e inéditos:
crônicas, contos, monólogos,
entrevistas, mini-séries,
e como é teatrólogo,
lindas peças teatrais;
novelas originais,
com excelentes diálogos.
Cada verão no Farol
lançava o seu jornalzinho,
com nomes interessantes,
editados com carinho:
“Farol Feira” e “O Caranguejo”...
realizava o desejo
de escrever, que é um viciozinho.
Fez louvores ao Farol
através de poesias.
Uma delas é um soneto
recheado de harmonia:
é “Farol de São Tomé”,
a linda praia que é,
onde passa uns bons dias.
Afirma Waldir Carvalho
que o homem precisa muito
da mulher em sua vida
e ele teve o amor gratuito
da sua musa Zenir
das suas filhas Zedir,
Walnize, Zalnir, seus frutos!
Interessante o casal
que teve somente filhas.
Das filhas, somente netos
e os netos voltam na trilha.
Só tiveram (até agora),
bisnetas, que ele adora!
Assim é a sua família.
Em conversas separadas
das suas filhas ouvi:
Que quando eram pequenas,
não batia nas guris.
Sentava numa poltrona
e na conversa detona,
‘Falando daqui pra ali’,
somente aconselhando.
A palavra é o seu chicote.
Nos poemas e homenagens
as filhas não usam mote.
Falam sério de Waldir,
com ternura, a sorrir,
do pai que tem muito dote
para ser pai de verdade,
‘pai-exemplo’, ‘pai-ternura’, .
pai-companheiro, amigo.
Pai que não diz, nem faz juras,
porque só usa a verdade,
transparência, lealdade,
seriedade e brandura!
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